30 dezembro 2018


P / INFO: 2019: Uma Igreja com antigos e novos desafios, Desafios para Francisco & Hans Küng: I. Teólogo en la frontera con lealtad crítica 

2019: Uma Igreja com antigos e novos desafios
Frei Bento Domingues, O.P.

1. Diz-se que este Papa devia estar caladinho acerca de economia e política para as quais não tem nem competência reconhecida nem mandato divino ou humano. A economia e a política do Estado do Vaticano não têm dimensão para merecerem qualquer relevância a nível mundial. As referências a escândalos financeiros da banca vaticana tiveram muito eco na opinião pública por que manchavam uma instituição que devia dedicar-se à promoção da virtude, da santidade, da justiça, mas nunca à corrupção.
        A atribuição da responsabilidade da pedofilia clerical ao actual Pontífice Romano é a cruz que os seus inimigos lhe puseram aos ombros para não terem de se confrontar com as reformas que ele procurou e procura introduzir na Igreja, a todos os níveis.
Outros acusam-no de não enfrentar a questão mais fácil de resolver e a mais urgente: a abertura dos ministérios ordenados a homens casados e a mulheres.
Quanto aos homens casados, diz-se na Igreja Católica que não há questões teológicas que impeçam a sua ordenação, mas continua-se a recusá-la. Dado o crescente e activo papel das mulheres no mundo contemporâneo, as religiões que não souberem acolher as suas capacidades de serviço e liderança vão pagar caro a sua miopia. Afirma-se com frequência, no seio do catolicismo, que existem problemas de carácter doutrinal quanto ao acesso das mulheres ao sacramento da Ordem: a Igreja não se julga autorizada a modificar uma omissão ancestral baseada no silêncio do Novo Testamento (NT). Nunca, porém, se coibiu de tomar posição sobre assuntos, até de ordem dogmática, de que o NT não fala explicitamente. Pano para mangas.
Seja como for, a situação dos ministérios ordenados na Igreja Católica está envenenada por um problema básico de catequese que condiciona todos os outros: o mau uso da palavra Igreja. Apesar de todos os esforços, sobretudo depois do Vaticano II, para não confundir essa designação com a hierarquia eclesiástica, essa confusão tem resistido a todos os esforços de esclarecimento.
2. A Igreja Católica é o conjunto dos católicos com serviços hierarquizados para tornar visível e concreta a missão de Cristo no mundo e para alimentar a vida interna das comunidades.
Não há um baptismo para homens e outro para mulheres, como já escrevi várias vezes. É ele que significa e realiza o começo do que é fundamental no cristianismo. Tudo o resto é para ajudar este caminho.
Enquanto isto não entrar na consciência, no vocabulário e na prática eclesial, continuaremos a não entender nem a missão da Igreja nem o papel e as modalidades dos ministérios ordenados de que precisa.
Sem ter isto em conta, não é possível compreender a resistência que existe, na hierarquia, para modificar o actual regime dos ministérios ordenados na Igreja. Continuaremos no absurdo: exige-se a certas comunidades religiosas a celebração diária da Eucaristia, quando, em muitos países, já não há padres para o exercício pastoral das paróquias e movimentos. A própria distribuição do clero não pode ser muito consequente porque não tem clero para distribuir.
 Os padres também envelhecem e morrem. Na Europa, os que se apresentam como candidatos já nem como remendos conseguem responder às urgências!
O ridículo da questão é o seguinte: entre mulheres e homens, jovens e adultos, não há falta de vocações nas comunidades católicas para que toda a Igreja responda à sua missão. Falta, entre outras decisões, alterar o seu estatuto actual. Não cabe na cabeça de ninguém que as comunidades cristãs europeias não possam gerar os serviços de que precisam. Criam-se obstáculos canónicos, como se fossem divinos, para não resolver o que pode ser resolvido sem drama.
O grande teólogo dominicano, o flamengo Edward Schillebeeckx, sofreu três processos romanos acerca da sua teologia. O último foi sobre os ministérios eclesiais (1984). Com palavras mansas, o cardeal Ratzinger deu por encerrado o debate sem qualquer condenação, mas depois publicou no L’ Osservatore romano uma nota dedicada ao povo cristão. Nela declara que para a Congregação da Doutrina da Fé subsistem na posição do teólogo referido alguns pontos de desacordo sobre a Doutrina Oficial da Igreja. Não diz, porém, que a sua doutrina esteja em oposição com a fé. Não foi elegante este processo, mas levou Schillebeeckx à seguinte conclusão: moveram-me três processos. Não fui condenado em nenhum. Era um teólogo feliz[i].
Schillebeeckx morreu, Ratzinger está vivo e vigilante. Não é fácil para o Papa Francisco proceder à revisão desse processo. Vai sendo tempo de convocar teólogas e teólogos para retomarem uma questão clamorosa que só por artifícios pode ser abafada. É um desafio a assumir nos próximos anos, a começar em 2019.
3. Regressemos ao ponto 1. Dir-se-á, e é verdade, que a problemática até aqui abordada refere-se a questões de funcionamento interno da Igreja, mas esta não existe para si mesma. Não pode ser auto-referente. Deve renascer continuamente para a missão. O Vaticano II (1962-1965) não quis cingir-se a questões de funcionamento interno. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes é sobre a Igreja no mundo contemporâneo, não é sobre a Igreja nas sacristias actuais.
Afirma literalmente: as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração.
Não interessa, neste momento, analisar a história dos seus ziguezagues desde há 50 anos. O Papa Francisco resolveu apresentar o programa do seu pontificado – O Evangelho da Alegria (EG) – em linha recta com um Concílio em que não tinha participado. Por essa razão, ligou a questão do anúncio do Evangelho com um novo olhar sobre a economia e a política actuais, sabendo que ia causar problemas. «Se alguém se sentir ofendido com as minhas palavras, saiba que as exprimo com estima e com a melhor das intenções, longe de qualquer interesse pessoal ou ideologia política. A minha palavra não é a dum inimigo nem a dum opositor. A mim interessa-me apenas procurar que, quantos vivem escravizados por uma mentalidade individualista, indiferente e egoísta, possam libertar-se dessas cadeias indignas e alcancem um estilo de vida e de pensamento mais humano, mais nobre, mais fecundo, que dignifique a sua passagem por esta terra[ii]».
Do resto falaremos no próximo Domingo.
Bom ano
in Público, 30.12.2018


[i] Edward Schillebeeckx, Je suis un théologien  heureux, Cerf, Paris, 1995, pp 67-78
[ii] EG 208


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Desafios para Francisco
Anselmo Borges
29 Dezembro 2018 — 06:26

Perante uma das mais graves crises de sempre da Igreja, o desafio maior para Francisco continuará a ser tentar converter a cristãos os católicos, começando pela cúpula: cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas. Essa conversão implicará uma organização eclesial na linha do Evangelho.
O próximo ano será marcado por acontecimentos decisivos para se saber qual o lugar que a história reservará a Francisco: um Papa da continuidade ou o Papa da ruptura que se impõe.
1. Em fevereiro, reunião em Roma com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo sobre a pedofilia. Ter-se-á a coragem de tomar medidas que acabem com essa podridão estrutural na Igreja? Vão ser abertos os arquivos para ficar a claro por uma vez tudo o que tem acontecido? E serão devidamente sancionados, colaborando também com a justiça civil, os abusadores e os encobridores? E para a formação dos novos padres: mais presença feminina e testes de maturidade, também com peritos credenciados de saúde mental?  
2. Em Março, será aprovada  a nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, Governo central da Igreja. Continuará o centralismo ou haverá uma Constituição democrática, de comunhão, com representação de todos, incluindo as mulheres, e das Igrejas locais do mundo, superando o dualismo clero-leigos a substituir pela relação viva: comunidade-ministérios (serviços)?
3. O Sínodo sobre a Amazónia em Outubro:  ocasião para aumentar a consciência ecológica global e avançar com novos ministérios, incluindo a ordenação de  homens casados ?
4. Em Janeiro, na Jornada Mundial da Juventude no Panamá: o anúncio da próxima Jornada em Portugal em 2022, com o regresso do Papa ao país, constituirá um novo impulso para reanimar a Igreja em Portugal, que parece continuar paralisada? 
Ano novo 2019 bom e feliz!
in DN 29.12.2018


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HANS KUNG: I. TEÓLOGO EN LA FRONTERA CON LEALTAD CRÍTICA
Juan José Tamayo
Director de la Cátedra de Teología “Ignacio Ellacuría. Universidad Carlos III de Madrid

El año que termina ha sido fecundo en efemérides de colegas y entrañables amigos teólogos. Hemos celebrado el centenario del nacimiento de Raimon Panikkar, los 90 años de Gustavo Gutiérrez, de Hans Küng, de Pedro Casaldàliga y de Johan Baptist Metz, los 80 años de Jon Sobrino y de Leonardo Boff. Hemos recordado a la teóloga feminista brasileña Ana María Tepedino María, fallecida este año. En mi blog amerindiaenlared.org he dedicado varios artículos a Panikkar, Casaldàliga, Sobrino, Boff y una necrológica a Tepedino. 
Ahora publico el primero de los artículos dedicados a Hans Küng, una de las figuras más relevantes de la teología cristiana del siglo XX, que, con su extensa y rigurosa obra elaborada ininterrumpidamente durante más de sesenta años de actividad docente e investigadora, ha ejercido una significativa influencia en el panorama religioso mundial.  Es la expresión de mi reconocimiento, sintonía y amistad.
     La teología de Hans Küng es, sin duda, una de las más sólidas y creativas de la segunda mitad del siglo XX y del siglo XXI. Se caracteriza por la búsqueda de la identidad cristiana en diálogo con otras identidades religiosas y culturales a la luz de la conciencia crítica de la Modernidad, por el cuestionamiento de las instituciones eclesiásticas desde una rigurosa fundamentación histórica, filosófica y teológico-bíblica, por la crítica de los dogmatismos y fundamentalismos religiosos, por el trabajo ecuménico a favor de la reconciliación entre las iglesias cristianas en el seguimiento de Jesús de Nazaret y la fidelidad evangélica, por el diálogo entre las religiones como contribución necesaria a la paz en el mundo, por la construcción de una ética mundial en tiempos de globalización, por la sensibilidad hacia las inquietudes de los hombres y mujeres de nuestro tiempo y por su ubicación en la frontera con lealtad crítica a la Iglesia católica .

           Convergencias entre catolicismo y protestantismo

Su tesis doctoral sobre la doctrina de la justificación en la obra de su compatriota el teólogo evangélico suizo Karl Barth (La justificación. Doctrina de Karl Barth y una interpretación católica, Editorial Estela, Barcelona, 1967) constituye el horizonte ecuménico en el que va a moverse su trabajo teológico y marca un hito en la teología ecuménica. En ella intenta demostrar la coincidencia entre la doctrina de la justificación de Barth y la católica en sus elementos fundamentales.
El propio teólogo suizo reconocía que la exposición de Küng respondía en lo esencial a su reflexión sobre la justificación y que le había interpretado correctamente: “Usted me hace decir lo que yo digo y yo pienso como usted me hace hablar”, comenta Barh en “Una carta al autor”, fechada el 31 de enero de 1957, cuando Küng tenía 28 años. (La diferencia de edad entre ambos es de 42 años: Barth nació en 1886; Küng, en 1928).
Tras leer el libro de Küng –yo lo hice en 1970 y sigo leyéndolo casi cincuenta años después-, uno no puede menos que preguntarse con R. Muñoz Palacios si todas las guerras de religión, las luchas teológicas, los enfrentamientos y las divisiones entre católicos y protestantes no habían sido un inmenso error. La respuesta tiene que ser afirmativa. El problema es que las guerras religiosas siguen produciéndose. 

El papa, ¿infalible?

     En la década de los sesenta y principios de los setenta, Küng se centró en temas eclesiológicos como el ecumenismo, el Concilio Vaticano II, la Iglesia y la infalibilidad, siempre en clave ecuménica, que adquirió carácter académico con la creación del Instituto de Investigaciones Ecuménicas en la universidad de Tubinga, del que fue director. Tres son las principales obras de este período: Estructuras de la Iglesia, La Iglesia –fue el tratado de eclesiología que yo estudié- e ¿Infalible? Una pregunta. Elabora una eclesiología crítica a partir del Evangelio y bajo la inspiración del Concilio Vaticano II. Aborda la “esencia” de la Iglesia en su forma histórica mutable. Parte de la Iglesia real encarnada en el mundo, y no de una Iglesia ideal que se encuentre en las abstractas esferas de la teoría teológica.
Con honestidad teológica y lucidez intelectual se pregunta si la Iglesia puede apelar razonablemente a Jesús de Nazaret y si está fundada en su Evangelio. Su respuesta es que entre Cristo y la Iglesia no se da una compenetración física y necesaria, sino una unidad peculiar: unidad en la dualidad y dualidad en la unidad; unidad como dinamismo histórico y no como estatismo ontológico. La Iglesia no se encuentra al mismo nivel que el reino de Dios, sino bajo el reino de Dios y a su servicio. La índole carismática no es algo accidental en la Iglesia, sino que forma parte de su estructura fundamental.
En su obra La Iglesia católica Küng avanza algunas líneas de futuro por las que habrán de caminar las iglesias cristianas. Deben enraizarse en el Evangelio, en el movimiento de Jesús de Nazaret y en los orígenes cristianos, que es donde se encuentra su inspiración más auténtica. No pueden depender de modelos organizativos jerárquico-patriarcales del pasado, que excluyen a las mujeres de los ministerios y de las funciones directivas en las iglesias en razón de su sexo. En continuidad con Küng, creo que las iglesias deben reconocer a las mujeres como sujetos morales, eclesiales y teológicas, y a partir de ahí desarrollar una reflexión teológica desde la perspectiva de género, que no justifica la lucha de las mujeres contra los varones ni la de éstos contra aquéllas, sino que es inclusiva de hombres y mujeres.
La unidad de las iglesias cristianas no se logra con el retorno de una iglesia a otra o con la salida de una hacia la otra, y menos aún con la sumisión de una iglesia a la otra, sino a través del retorno por ambas partes, la mutua aceptación, la comunión en un dar y recibir recíprocos, y, en definitiva, de la conversión de todas a Cristo y su mensaje.
     Una de las cuestiones más problemáticas y conflictivas de las tratadas por Küng es la infalibilidad del Papa, que divide a la cristiandad –incluso dentro de la Iglesia católica-y que, desde que se produjo la Reforma protestante, espera una respuesta de la teología católica. Küng aborda esta cuestión de manera sistemática, con profundidad teológica, rigor histórico y fundamentación exegética, pero sin hablar ex cátedra. Lo que Küng se pregunta es si “la infalibilidad de la Iglesia necesita proposiciones infalibles”.
Ateniéndose a la filosofía del lenguaje establece una serie de principios que deben aplicarse también a las distintas proposiciones de fe, cuales son las fórmulas de fe, los símbolos de la fe y las definiciones de fe. Ninguna de ellas está exenta de seguir las leyes que rigen todo tipo de proposiciones y todas ellas participan del carácter problemático de las proposiciones humanas.
Las proposiciones van a la zaga de la realidad; son equívocas; sólo pueden traducirse condicionalmente; están en movimiento; propenden a las ideologías. La teología debe tomar en serio la dialéctica de verdad y error, si no quiere caer en el dogmatismo, el juridicismo, el autoritarismo, el formalismo, el objetivismo y el positivismo.
Y para confirmarlo apela a la historia, siguiendo las investigaciones del teólogo francés Yves Marie Congar (1904-1995) –con quien coincidió como asesor en el concilio Vaticano II (1962-1965)- sobre la Iglesia en la Edad Media, marcada como estuvo por el absolutismo papal. Durante esa época se admite en general que el Papa puede errar y caer en la herejía. Lo que se enseña es la indefectibilidad de la Iglesia, no la infalibilidad del Papa. Durante las épocas oscuras del cristianismo la indefectibilidad de la Iglesia no se manifestó precisamente en la jerarquía, ni siquiera en la teología, tampoco entre los poderosos, sino entre los humildes, entre numerosos cristianos la mayoría de las veces desconocidos que escucharon el mensaje del Evangelio y vivieron conforme a él.
¿Hans Küng contra el papado? No exactamente. Escribe en su libro La Iglesia católica: “Defiendo el papado para la Iglesia católica, pero al mismo tiempo reclamo infatigablemente una reforma radical de acuerdo con los criterios del Evangelio” (Mondadori, Barcelona, 2002, p. 14). 
La publicación del libro sobre la infalibilidad provocó una investigación en la Congregación para la Doctrina de la Fe, que culminó, unos años más tarde, con la retirada de la  retirada del permiso para la enseñanza –de la que hablaré en otro artículo- la no pocas reacciones negativas de colegas como Karl Lehmann y Karl Rahner, a las que dio contestación respetuosa asumiendo los aspectos positivos de las críticas y aportando nuevos argumentos en defensa de los planteamientos de su polémico libro. Lo hizo en Respuestas a propósito del debate sobre “Infalible. Una pregunta (1971), que concluye con un capítulo titulado “Por qué permanezco en la iglesia”.   



23 dezembro 2018


P / INFO: A sabedoria que falta, O Natal de Jesus e a dignidade humana, O encontro das duas mulheres, Crux’s Rundown of the Top Ten Vatican Stories of 2018 & Francis tells perpetrator priests: turn yourselves over, 'prepare for divine justice'
NOTA: Em virtude dos artigos Crux’s Rundown of the Top Ten Vatican Stories of 2018 e Francis tells perpetrator priests: turn yourselves over, 'prepare for divine justice' serem muito longos não incluí os textos na integra, mas se alguém estiver  interessad@ em receber, digam-me que eu envio.

A sabedoria que falta
Frei Bento Domingues O.P.
Por que razão, havendo recursos, ciência e técnica para tornar a vida humana mais feliz, temos este mundo atolado em fomes, doenças, guerras horríveis e conflitos estúpidos?
1. Deram a um miúdo de Nazaré, de há mais de dois mil anos, o nome Jesus. O pai chamava-se José, com a profissão de carpinteiro[i] e a mãe era Maria, dona de casa. Dizem que naquele contexto, era normal que o filho aprendesse a exercer a profissão do pai. Como viviam a 7 km de uma grande cidade em construção, Sephoris, é provável que fosse aí que ambos tivessem mais oportunidades de trabalho[ii].
Na exegese bíblica, por boas razões, os chamados Evangelhos da Infância são lidos como transposições das descobertas da vida adulta para os primeiros anos de uma criança.
Paulo, o primeiro escritor cristão, não se demorou em considerações sobre a infância e a adolescência de Jesus. A mesma coisa aconteceu com Marcos e com o Quarto Evangelho. Paulo disse apenas que Jesus era nascido de mulher, ainda sob a Lei mosaica[iii]. João introduziu a sua narrativa com um hino muito belo, apontando para a pré-existência e a incarnação da Palavra primordial. Marcos apresenta-o já como adulto no movimento de João Baptista[iv].
Não posso expor, aqui, as preocupações que presidiram à elaboração literária dos primeiros anos de Jesus e da sua genealogia. Mateus vê nesse menino o começo da realização simbólica da esperança do antigo Israel; o olhar de Lucas abre-se a toda a humanidade. Enquanto, para Paulo, o importante era não deixar o projecto de Jesus Cristo circunscrito ao chamado povo eleito, a astúcia de Lucas é ainda mais engenhosa: a mensagem Jesus destina-se a todo o mundo porque ele incarna o sentido da história de toda a humanidade. Na figura simbólica de Adão tem antepassados em todos os povos.
2. Não pretendo, nesta crónica, abordar a inesgotável questão da distinção entre o Cristo da fé e o Jesus da história que se agita, no campo cristão, desde o século XIX, passando por várias fases de investigação, classificadas por Gerd Theissen, até às mais recentes. A obra monumental do católico John P. Meier que interpreta Jesus com judeu marginal não impediu que o investigador judeu, A. Lacocque, opte por considerar Jesus o judeu central. Nenhum deles pode pensar que ficou dita a última palavra[v]!
Não se deve procurar, nos contos da chamada infância de Jesus, uma história segundo os moldes actuais, nem ver neles uma estranha biologia divina ou um tratado de astronomia. São muito mais do que um álbum da família de Nazaré, fixado como quadro exemplar de família.
Foi na vida adulta que o Nazareno testemunhou a sua missão. As mais belas representações do Natal servem para mostrar que ele não é um meteorito caído do céu. Nasce e vive segundo o Espírito de Deus, mas como todos os seres humanos. As narrativas sobre o curral em que nasceu, sobre as visitas entusiasmadas dos pastores que não eram frequentadores do Templo, dos Magos estrangeiros, do susto de Herodes, da matança das crianças, da fuga para o Egipto e do bom comportamento das estrelas, significam que nasceu na história humana, em data aproximadamente conhecida, à margem dos poderes de dominação, mas aberto ao mundo e aos marginalizados da sociedade e da religião oficial.
Quando se procurou ler esses contos em registo historicista, nasceu, então, a vontade de verificar se foi mesmo assim que as coisas aconteceram. Quem acreditava que eram narrativas literalmente ditadas por Deus infalível tinha de confessar que lhe era exigida uma fé irracional, pois as narrativas não coincidem. Se metermos por esse caminho, acabamos em escandalosos becos sem saída.
Talvez seja mais adequado reconhecer esses textos magníficos, que os cristãos vão ler na época natalícia, como obras de literatura religiosa. Merecem ser abordadas como teologia literária e não como teologia escolástica.
Neste sentido, tenho uma devoção especial pela imaginação poética de Kahlil Gibran no seu Jesus, o Filho do Homem[vi]. Coloca no século XX todas as figuras que tiveram a ver com o mundo de Jesus, para nos dizerem o que as comoveu e que nos continuam a interrogar. Gibran escreveu um novo e antigo evangelho sobre o momento, sem limites de tempo, em que a humanidade tomou a mais alta forma humana.
3. A época em que vivemos é de crescente investigação científica, de capacidades tecnológicas espantosas, mas, observando o que acontece em todos os povos, é também um tempo de reduzida sabedoria. A aplicação da ciência e da técnica tanto pode realizar os bons sonhos da humanidade como transformar-se numa ameaça. Esta é uma convicção muito partilhada. Surge, então, a questão: por que razão, havendo recursos, ciência e técnica para tornar a vida humana mais feliz, temos este mundo atolado em fomes, doenças, guerras horríveis e conflitos estúpidos?  
Como não estamos pré-determinados, como temos de construir a nossa vida com os recursos genéticos e culturais que herdamos, como estamos num mundo cheio de contradições e onde a nossa harmonia interior é sempre precária, é inevitável a pergunta: que fazer?
Há respostas cínicas: este mundo não tem conserto e não vale a pena pensar que algum dia a história humana será mais interessante do que é hoje. As utopias existem apenas para serem negadas.
No entanto, ninguém, com juízo, deseja a melhoria dos meios de destruição colectiva. Pelo contrário. Todos os movimentos ecologistas e de defesa dos direitos humanos significam que não é a resignação o nosso horizonte.
Se todos os meios de comunicação vão fazer balanços do que neste ano correu bem e do que correu mal, é porque não se acredita que estamos definitivamente derrotados. Acredita-se que a esperança precisa de ser ajudada, a nível individual, familiar e colectivo.
A sabedoria é um bem mais escasso do que os recursos, a ciência e a técnica. Um dos melhores presentes culturais deste Natal é o começo da publicação dos Livros Sapienciais do Antigo Testamento, traduzidos por Frederico Lourenço[vii]. No entanto, S. João propôs ao velho Nicodemos a sabedoria que nos falta: nascer de novo[viii]. Por isso, o nosso baptismo, o nosso radical renascimento, é o Natal que nos esquecemos sempre de celebrar, mesmo no Natal.
Boas Festas
in Público 23. 12. 2018
https://www.publico.pt/2018/12/23/sociedade/opiniao/sabedoria-falta-1855460


[i] Em Mc 6, 3 Jesus é carpinteiro. Em grego, tektón, significa que não trabalhava só madeiras, mas também pedra e tudo o que é preciso para construir uma casa; em português talvez se possa chamar artesão.
[ii] Destruída durante a rebelião contra o ocupante romano, hoje, é uma aldeia dos arredores de Nazaré que se tornou cidade.
[iii] Gal 4, 4.
[iv] Jo 1, 1-10
[v]  Escritos como o Tratado de Ateologia de Michel Onfray não precisam de investigações alheias porque já decretaram que a posição deles é a única verdadeira.
[vi] K. Gibran (1883-1931). É uma obra de 1928, trad. Europa-América, 2005
[vii] Frederico Lourenço, Bíblia, Volume IV, Os livros Sapienciais, Tomo I, 2018
[viii] Jo 3

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O Natal de Jesus e a dignidade humana
Padre Anselmo Borges
Ernst Bloch, um dos maiores filósofos do século XX, ao mesmo tempo ateu (não acreditava no Deus pessoal) e religioso (estava religado à divina Natureza), quando era professor na Universidade de Leipzig, na antiga República Democrática Alemã, na última aula antes das férias de Natal desejava a todos os estudantes boas-festas, falando-lhes do significado do Natal e terminava, dizendo: "É sempre Advento", querendo desse modo apelar para a esperança: o mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsias e de possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar. Apesar do Natal, ainda é Advento, porque a plenitude ainda não chegou.

Foi em Tubinga que o conheci, pois Ernst Bloch, embora se confessasse marxista e ateu, acabou por ter de deixar Leipzig e a República Democrática Alemã: as autoridades comunistas acusavam-no de misticismo religioso. Ele defendia-se, sublinhando o carácter único, na história das religiões, do judeo-cristianismo e do seu livro, a Bíblia. Para ele, "a Bíblia é o livro mais significativo da literatura mundial", pois responde à pergunta decisiva do ser humano, que é a questão do fim, do sentido e da finalidade do mundo e da existência. Ir ao encontro da Bíblia "não pode prejudicar" nenhum ser humano que queira bem à humanidade e a si próprio. Concretamente, não é possível compreender o homem europeu e as suas obras literárias e artísticas, sem um conhecimento aprofundado da Bíblia. Os nazis, por exemplo, ao rejeitar a Bíblia como algo estranho que não devia ser estudado, não só não puderam compreender a cultura alemã como caíram na barbárie.

Sem a mitologia grega, não podemos entender a Antiguidade clássica. Assim também, sem o conhecimento da Bíblia, não podemos compreender as catedrais, o gótico, a Idade Média, Dante, Rembrandt, Händel, Bach, Beethoven, os Requiem, "absolutamente nada", escrevia Ernst Bloch. Impõe-se pôr termo ao desconhecimento da Bíblia, porque este desconhecimento constitui uma "situação insustentável", pois produz bárbaros que, por exemplo, perante a "Paixão segundo São Mateus" ou o "Messias", de Händel, ficam como bois a olhar para palácios.
Está aí o Natal. E o Natal, mesmo que alguns já não se lembrem disso - li há dias que um terço dos norte-americanos não sabem que o Natal se refere a Jesus - e haja até quem menospreze a data, é o aniversário natalício de Jesus Cristo. Sobre ele deixou escrito Ernst Bloch: Jesus agiu como um homem "pura e simplesmente bom, algo que ainda não tinha acontecido". Anunciou o Deus próximo, de amor, o Deus da misericórdia, um Deus amoroso e amável, e o seu Reino: o Reino de Deus, reino da liberdade - "onde está o espírito de Cristo aí está a liberdade", proclamou São Paulo -, reino da justiça, do amor, da fraternidade, da paz, da igualdade radical de todos perante Deus e perante os outros seres humanos, o reino da realização plena de toda a esperança.

Sobre Jesus, Mahatma Gandhi também deixou estas palavras: Jesus "foi um dos maiores mestres da humanidade". "Não sei de ninguém que tenha feito mais pela humanidade do que Jesus. De facto, nada há de mau no cristianismo." Mas acrescentou: "O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais." E tem razão.

Para quem está atento e não tem preconceitos é claro que um dos fundamentos da Europa é o cristianismo. É necessário confessar os erros, fragilidades e crimes do cristianismo histórico, mas é indubitável que da compreensão dos direitos humanos e da democracia, da tomada de consciência da dignidade inviolável do ser humano - de todo o ser humano -, da ideia de história e do progresso, da separação da Igreja e do Estado, portanto, da laicidade, de tal modo que crentes e ateus têm os mesmos direitos, faz parte inalienável a mensagem originária do cristianismo.

Lembro E. P. Sanders, da Universidade de Oxford, que, na sua obra A Figura Histórica de Jesus, quis dar uma visão convincente do conjunto da vida do Jesus real, portanto, apenas a partir da história, independentemente da fé. Ele conclui que é possível saber que o centro da mensagem de Jesus foi o Reino de Deus, que entrou em conflito com o Templo, que compareceu perante Pilatos e que foi executado. Mas, continua, também sabemos que, "depois da sua morte, os seus seguidores fizeram a experiência do que descreveram como a "ressurreição"": aquele que tinha morrido realmente apareceu como "pessoa viva, mas transformada". "Acreditaram nisso, viveram-no e morreram por isso." Assim, criaram um movimento, que cresceu e se estendeu pelo mundo e mudou a história. Grande parte da humanidade foi atingida por esse movimento e pela esperança que transporta.

A Igreja só se justifica enquanto vive, transporta e entrega a todos, por palavras e obras, o Evangelho de Jesus, a sua mensagem que mudou a história.
Padre e professor de Filosofia
in DN 22.12.2018
www.dn.pt/edicao-do-dia/22-dez-2018/interior/o-natal-de-jesus-e-a-dignidade-humana-10347645.html?target=conteudo_fechado


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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO IV DO ADVENTO Ano C
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
 o menino exultou-lhe no seio.” Lc 1, 41

O encontro das duas mulheres

Há muitos encontros no abraço de Maria e de Isabel. Abraço, sim, pois a arte não se cansou de o representar ao longo dos tempos. E ainda que em muitas obras apareçam Zacarias e José, são elas, a mulher-mãe-idosa e a mulher-mãe-virgem, o centro da cena. Mulheres profundamente crentes, cheias de espírito profético que nos contagiam com a alegria do Evangelho, como tantas o fizeram e fazem, ao longo da história da Igreja, às vezes esquecidas e desvalorizadas! Que saudação nova seria aquela de Maria, que fez saltar de alegria o pequeno João no seio de Isabel? O “Shalom” habitual tem o sabor da paz que Deus oferece em plenitude à humanidade. Encontram-se o desejo que a terra tem do céu, e que o céu tem da terra. Encontram-se o antigo e o novo, o caminho e a meta, a flor e o fruto, a sede e a fonte, o hoje e o amanhã!

Continuamos com sede de encontros mais verdadeiros nesta humanidade. São muito importantes as cimeiras, os debates, os esforços de diálogo, as negociações, os acordos. São necessárias as palavras mas elas precisam de saltar dos papéis e discursos, e tornarem-se grávidas de gestos, de mudanças, de vida a nascer. A esterilidade e a recusa de gerar vida prolongam no tempo a injustiça e a indiferença; isolam no egoísmo os que julgam não precisar de ninguém. É preciso humildade e abertura, alegria e comunhão para que os encontros produzam vida nova. Deus vem ao nosso encontro pelo princípio: nascendo e crescendo como nós! Quando renascemos e crescemos em cada encontro, o Natal acontece aí mesmo!

As primeiras palavras do encontro de Isabel e Maria pertencem a Isabel. Dizemo-las saborosamente em cada Avé-Maria. Palavras deslumbradas e tão cheias de alegria! De seguida, “inventa” a primeira bem-aventurança do evangelho de Lucas: “Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor.” Como se a dissesse para todos os que, ao longo dos tempos, desejamos acreditar como Maria. E podia tudo ficar ali num desejo espiritualizado! Mas Maria dá-nos o cântico do Magnificat, que, dizia um autor, “se as palavras provêm em grande parte do Antigo Testamento, a música pertence já à Nova Aliança”. E D. Helder Câmara, num hino à Virgem da Libertação, perguntava: “Que há em Ti, em tuas palavras, em tua voz, / quando anuncias no magnificat / a humilhação dos poderosos / e a elevação dos humildes, / a saciedade dos famintos / e o desabar dos ricos, / que ninguém se atreve a chamar-Te, revolucionária / nem a olhar-Te com suspeita? / Empresta-nos a tua voz e canta connosco.” São estas as “palavras grávidas”, que o encontro de Deus nos inspira a cantar, sempre em cada Natal!
in Voz da Verdade 23.12.201/8
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=7828&cont_=ver2

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Crux’s Rundown of the Top Ten Vatican Stories of 2018
John L. Allen Jr. EDITOR
Dec 23, 2018
in Crux Now Dec 23, 2018
ROME - There hasn’t been a dull moment in the Catholic Church since Pope Francis was elected in March 2013, but even by his activist and high-octane standards, 2018 was a turbulent year.
The past 12 months have been full of drama, both great highs - the joy of the World Meeting of Families in Dublin in August, for instance - and tremendous lows, above all the stupefying spectacle of a former papal ambassador in America publicly accusing the pope himself of a sex abuse cover-up.
Herewith, the official Crux list of the Top Ten Vatican Stories of 2018, ranked in terms of their relative significance for the life of the Church. This is an entirely subjective enterprise, and others doubtless will assess the major events of the past year differently, but however one puts the pieces together, it’s definitely been a year worth a look back.
Notably, four of these ten stories, including the top three, touch upon the clerical sexual abuse crisis. The abuse crisis dominated both headlines and the internal life of the Church in 2018, and there’s every reason to believe the same will be true over the next twelve months - especially given that 2019 will open with Pope Francis’s keenly anticipated Feb. 21-24 summit for presidents of bishops’ conferences on child protection.
As always, whatever happens in 2019, you’ll be able to read all about it on Crux.
Papal trip to Geneva 
Francis was only in Geneva for one day, June 20, but the visit still packed a considerable punch in terms of ecumenism, meaning the press for Christian unity. The primary motive for the trip was for the pontiff to visit the headquarters of the World Council of Churches, the world’s leading ecumenical umbrella group. Although the Catholic Church isn’t formally a member of the WCC, the Vatican cooperates with the group on a wide variety of fronts, and the pope’s presence was obviously a major seal of approval. As he always does, Francis rolled out his practical view of the ecumenical enterprise, focusing not on doctrinal controversy but on what the various churches can do together in the here-and-now in service to humanity. “For me, to be a peace church is the mandate of God,” Francis said. “I believe that all the churches that have this spirit of peace must come together and work together.”

Pope blinks in Nigeria
On Feb. 19, Pope Francis accepted the resignation of Bishop Peter Okpaleke from the diocese of Ahiara in Nigeria. While that’s the sort of thing popes do on a daily basis, this resignation was remarkable in that Francis had previously vowed that Okpaleke wasn’t going anywhere and threatened priests who had opposed him, because he didn’t hail from the majority linguistic and cultural group in the diocese, with suspension for their disobedience. In the end, however, Francis yielded to reality and allowed the controversial bishop to step aside. He appointed an apostolic administrator, but he has yet to name a successor bishop. Ahiara, therefore, offered a striking lesson in the limits of papal power - time and the tides, in other words, stop for no one, not even a pontiff.

World Meeting of Families
From a media point of view, the Aug. 21-26 World Meeting of Families was overshadowed by release of a bombshell letter from a former papal envoy accusing Pope Francis of covering up sexual misconduct allegations against ex-Cardinal Theodore McCarrick, and understandably so. The meeting also came in the immediate wake of a stinging defeat for the Catholic Church in Ireland’s abortion referendum, and against the backdrop of arguably the world’s most intense clerical sexual abuse crisis as well as decades of runaway secularization. Given all that, there was every reason to expect a flop, but instead turnout was strong and the general mood among participants was strikingly upbeat. The World Meeting, in other words, ended up being a testament to the resilience of the Church, despite the failures of those who happen to be in charge at any given moment.

Synod
Granted, the Oct. 3-28 Synod of Bishops on youth, faith and vocational discernment didn’t produce any earthquakes akin to the last two synods on the family, which ended with Francis’s controversial decision to open communion to divorced and civilly remarried Catholics under certain circumstances. Still, the fact that in the midst of the political, polarized climate of the Church its leaders managed to actually come together and have a discussion that was actually positive and constructive in some ways is important, and further, the youth who took part were content because they actually felt listened to. Also, the synod was notable for what it didn’t produce: The gathering walked up to the brink of apologizing for the abuse crisis and reaffirming the Church’s commitment to zero tolerance, but then pulled back due to opposition from bishops from the developing world. That omission highlights the importance of the February summit called for by Pope Francis.

Irish abortion referendum
On May 25, Irish voters by a wide margin, 66 percent to 34 percent, approved a referendum effectively legalizing abortion. The result came despite strong opposition from the Catholic Church, and it was widely taken as a sign of the Church’s weakening hold on what was once an almost homogenously Catholic nation. Interestingly, the Vatican and Pope Francis largely stayed out of the Irish argument, which could be read as deference to the local church, but which could also be seen as a strategic decision to avoid picking fights the Church seems destined to lose. In any event, the Irish outcome beckoned an examination of conscience for the pro-life movement worldwide, pondering whether legislative and political debates over abortion ought to yield pride of place for the moment to efforts to shape culture and to win hearts and minds.

Hospital loan controversy
In February, donors to the largely American “Papal Foundation,” an organization devoted to supporting papal charities worldwide and whose entire stock in trade is generally loyalty to the pontiff, took the rare step of balking at a papal request - in this case, a $25 million loan to help cover a deficit at a Roman hospital called the Immaculate Institute for Dermatology. In part, the debate was over whether due diligence was done in proposing the loan, and whether the $25 million amount would actually make much difference in terms of filling the financial black hole that the hospital has become. In part, too, it was about the politics of the Pope Francis era, since the members of the Papal Foundation tend to be Church conservatives while the major proponent of the loan was Cardinal Donald Wuerl, then of Washington, D.C., and a man seen as a major Francis loyalist. As the controversy dragged on, it seemed to become a metaphor for broader tensions in the Church over both financial transparency and also the progressive vision for Catholicism outlined by Francis.

German intercommunion debate
In February, the German bishops’ conference voted by a large majority at their spring conference to produce a set of pastoral guidelines allowing a Protestant spouse of a Catholic to receive the Eucharist at Mass in some cases. Seven German bishops then wrote to the Vatican protesting the decision, arguing that it involved a matter of doctrine and universal discipline that shouldn’t be settled by a single national conference. A delegation of German bishops had a meeting in April in Rome with the Vatican’s Congregation for the Doctrine of the Faith, at which time they were informed that Pope Francis wanted them to come to a unanimous decision. Eventually, the Permanent Council of the bishops’ conference published the controversial guidelines, styling them as non-official and no more than an aid to diocesan bishops. Many observers took the outcome as a signal that Francis basically approved of the decision of the majority, but he wanted to respect the concerns of the minority as well.

Papal visit to Chile
When Pope Francis traveled to Chile in mid-January, that country’s massive sexual abuse crisis was just beginning to crest. The focal point then was Bishop Juan Barros, appointed by Francis to the small rural diocese of Osorno and accused by abuse survivors of covering up for Fernando Karadima, the country’s most notorious pedophile priest. By most standards, Francis stumbled badly during the trip, even accusing survivors of “calumny” for pressing their complaints against Barros. Yet afterwards the pope changed course, sending investigators to Chile, apologizing for being misinformed, and eventually convening a summit in which every Chilean bishop submitted his resignation. Collectively, the Chile experience seemed a snapshot of a pope whose approach to the abuse crisis remains a work in progress.

The McCarrick affair
In June, Cardinal Theodore McCarrick, the former archbishop of both Newark and Washington, D.C. was removed from ministry after a review board in the Archdiocese of New York found an accusation that he had sexually abused a 16-year-old altar boy while serving as a priest to be credible. That triggered a chain of events that led to McCarrick resigning from the College of Cardinals, an exceedingly rare step that hadn’t occurred since the early 20th century. He became the first cardinal anywhere in the world to lose his membership in the Church’s most exclusive club due to the sexual abuse crisis. Questions immediately arose about how McCarrick was able to climb the ladder of ecclesiastical power despite persistent rumors of sexual misconduct dating back at least to the 1990s, and as of this writing, it remains unclear how those questions may be answered. Pope Francis refused a request by the American bishops for an Apostolic Visitation, meaning a Vatican investigation, choosing instead to ask Italian Cardinal Pietro Parolin, the Vatican’s Secretary of State, to collect all the McCarrick documentation in the Vatican’s possession to establish who knew what when. The Vatican pledged that information would be rendered public “in due course” and warned that it might sully the reputations of some churchmen, but to date there’s been no disclosure of the results of Parolin’s review.

The Viganò accusation

On August 25, Archbishop Carlo Maria Viganò, who served as the papal ambassador in Washington, D.C. from 2001 to 2006, released a document in which he asserted that he had informed Pope Francis of sexual misconduct concerns against McCarrick in 2013 but the pontiff failed to act. Viganò went on to suggest that for that failure, Francis ought to resign. The document also contained allegations against no fewer than 32 senior churchmen, in many cases having to do with a supposed homosexual underworld in the Vatican and the broader Church. Pope Francis refused to answer the charges directly, inviting reporters to look into it for themselves, and to date neither he nor any official Vatican spokesman has engaged the substance of Viganò’s accusation. As a result, reaction to Viganò has become something of a Rorschach test for one’s wider view of the Church under Francis: Critics of the pope are inclined to take the charges at face value, fans to dismiss them as a political hatchet job. Viganò himself has largely gone into hiding, though some observers believe he may be preparing other bombshell allegations for 2019.

in Crux 23.12.2018

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Francis tells perpetrator priests: turn yourselves over, 'prepare for divine justice'
by Joshua J. McElwee
VATICAN CITY — Pope Francis has called on Catholic priests and clergy who have abused children to turn themselves over to authorities, in what appears as the first such blanket command of a pontiff towards perpetrators his global institution long sought to hide or protect.

In an annual address to the high-level prelates who run the Vatican bureaucracy, the pontiff also acknowledged that the church had sometimes treated abuse cases "without the seriousness and promptness that was due" and promised to "spare no effort" in bringing to justice those who committed harm.

The pope likewise offered his "heartfelt thanks" to journalists who "sought to unmask these predators and give voice to the victims" and said an unprecedented February summit he has called with bishop presidents on protecting children would see the church "restate her firm resolve to continue, with all her force, on the path of purification."

"Let it be clear that before these abominations the Church will spare no effort to do all that is necessary to bring to justice whosoever has committed such crimes," said Francis. "The Church will never seek to cover up or not take seriously any case."

Aiming his words directly at perpetrators later in the 40-minute speech, the pontiff commanded: "To those who abuse minors I would say this: convert and hand yourself over to human justice, and prepare for divine justice."

The pope then reminded abusers of the words spoken by Jesus in Matthew's Gospel: "Whoever causes one of these little ones who believe in me to sin, it would be better for him to have a great millstone hung around his neck and to be drowned in the depths of the sea."

Francis was speaking Dec. 21 in an annual exchange of Christmas greetings with Vatican officials that he has used in previous years to upbraid the cardinals and archbishops. Last year, for example, he said some had been "bribed by their ambition." In 2016, he said those opposing his reform efforts were practicing a "malevolent resistance."

This year, however, revelations of abuse have continued to shock and enrage Catholics.

In July, the former archbishop of Washington, Theodore McCarrick, resigned from the College of Cardinals in the wake of disclosures that he sexually harassed or abused several young men over decades. In August, a grand jury in Pennsylvania reported that more than 300 priests across the state were accused of sexual assault.

Just two days before the pope's address, the attorney general of Illinois released a report Dec. 19 claiming that some 500 priests across that state accused of abuse had not been publicly identified.

One abuse survivor advocate told NCR that Francis' call for perpetrators to turn themselves in did not go far enough.

"At a moment that cries out for visionary leadership and radical change, the pope is indulging in make-believe," said Anne Barrett Doyle, co-director of abuse tracking website BishopAccountability.org.

Doyle said the pope is "pretending that the problem lies with perpetrator priests rather than a complicit and deceptive hierarchy."

"His message today does nothing to protect children, deter complicit bishops or lighten the anguish of victims," she said. "Let’s hope he is working on a host of concrete systemic reforms that he plans to roll out in February."

Francis devoted the greater portion of his Christmas remarks to what he termed "the scourge" of abuse.

The pope said that in reflecting on the subject he had thought of the Old Testament story of King David, a leader of Israel who slept with the wife of one of his soldiers, and then had the soldier killed in order to marry the now-widowed woman.

"Thinking that because he was king, he could have and do whatever he wanted, David tries to deceive … his people, himself and even God," said the pontiff.

"The king neglects his relationship with God, disobeys the divine commandments, and damages his own moral integrity, without even feeling guilty," said Francis. "The anointed continued to exercise his mission as if nothing had happened. The only thing that mattered to him was preserving his image."
Drawing an analogy with child abusers, the pontiff said: "Today too, there are consecrated men, 'the Lord’s anointed,' who abuse the vulnerable, taking advantage of their position and their power of persuasion."
"They perform abominable acts yet continue to exercise their ministry as if nothing had happened," said Francis. "They have no fear of God or his judgment, but only of being found out and unmasked."
Beyond commanding abuser priests to turn themselves in, the pontiff did not outline any specifics for how the global church would fulfill his promise to do "all that is necessary" to bring perpetrators to justice.
But referring to the February summit to which he has called all the presidents of the world's conferences of Catholic bishops, Francis said that during the meeting the church will "question, with the help of experts, how best to protect children, to avoid these tragedies, to bring healing and restoration to the victims, and to improve the training imparted in seminaries."

Clergy abuse survivors and advocates have long claimed that church officials in the past have covered up for abusers, in view of protecting the global institution from scandal or government inquiry. Both the Pennsylvania and Illinois reports also pointed to bishops who did not report known abusers to police.
Francis is the first pope to acknowledge that the church waited too long before taking reports of clergy sexual abuse seriously. In a September 2017 address to a papal commission he created to advise him on clergy abuse, the pontiff thanked men and women he called "prophetic" in urging the church to face the problem.
In his Christmas address, the pope returned to the biblical story of David to note that the king only acknowledged he had sinned with the help of the prophet Nathan.
"Today we need new Nathans to help so many Davids rouse themselves from a hypocritical and perverse life," said Francis.
"Please, let us help Holy Mother Church in her difficult task of recognizing real from false cases, accusations from slander, grievances from insinuations, gossip from defamation," the pontiff continued. "This is no easy task, since the guilty are capable of skillfully covering their tracks."
Even with his focus on the continued abuse crisis, Francis also found time in his address to return to some of his more traditional Christmas themes.
The pontiff told the Vatican officials not to act "like an elite group who think they have God in their pocket," and warned them as well against seeing themselves as "God's toll-keepers and not servants of the flock entrusted to their care."

[Joshua J. McElwee is NCR Vatican correspondent. His email address is jmcelwee@ncronline.org. Follow him on Twitter: @joshjmac.]

in NCR Dec 21, 2018
www.ncronline.org/news/accountability/francis-tells-perpetrator-priests-turn-yourselves-over-prepare-divine-justice


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